segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Resenha do livro "Verdade e Trasnformação" de Vishal Mangalwadi


Qual é a relação entre Deus e sua criação? O livro de Vishal nos explica teórica e praticamente as incríveis implicações que existem nesta questão e em reconhecer a verdade nisto, a ideia central de que Deus possui um plano não apenas espiritual para sua criação, mas em que as coisas espirituais completam, melhoram e fazem funcionar com a exatidão ao qual esta criação foi planejada para ser o que é, ou o que pode vir a ser.

A primeira parte abre nos revelando o privilégio que o ocidente tem em ter seus fundamentos na Bíblia. Onde a base dos valores morais, cívicos e éticos estão enraizados nas escrituras, e justamente por causa desta raiz nos conceitos bíblicos, a estrutura social que conhecemos existe até hoje. O problema acontece quando a cegueira destas gerações, que se seguiram até aqui, não admitem a importância destes fundamentos. Comportando-se como sendo libertinos ao invés de libertados. Todavia, verdadeiramente não o são por completo, até que de uma vez por todas reconheçam a soberania de Deus e a salvação que há em Cristo, sem se importar com o que a filosofia o secularismo e o animismo – ambos extremos – impõem a nossa sociedade.

“O reconhecimento de Hume (filósofo britânico 1711-1776), dos limites da lógica, deveria ter humilhado a arrogância do Iluminismo. No entanto, ao invés de admitir que a nossa lógica tinha seus limites, muitos acharam que se a lógica não poderia provar Deus, então Deus não poderia existir” (p. 29). Apesar de a filosofia ateia e gnóstica ocidental não ter influenciado o oriente tanto quanto o oposto, Vishal mostra que a Índia não precisou de tal influencia para pagar o preço de não conhecer os fundamentos bíblicos, que aos poucos o ocidente vem lutando e tentando rejeitar. A fábrica de leite que foi um exemplo de honestidade na Holanda (onde uma máquina disponibilizava o leite em troca do dinheiro, sem nenhum humano intermediando a venda), se tornaria um exemplo de burrice e oportunidade para a corrupção com os indianos, que não possuem uma moral baseada num Deus único e detentor supremo desta moral, como também para tantos outros países dominados pela corrupção e maus costumes.

Enxergamos um pouco mais da inconformidade e indignação de Vishal, em sua declaração de que não há romantismo na visão das mulheres que carregam suas latas d’água na cabeça. A inteligência que existe dentro da cabeça que é usada apenas para suporte de baldes, poderia ser muito mais bem aproveitada se o machismo e a filosofia de opressão ao mais fraco e rejeitado – institucionalizado pelo povo e pelo governo – não fosse uma terrível realidade na Índia. Mosteiros no ocidente, na Europa e em outros locais se tornaram universidades. Em seu início, o ocidente compreendeu o potencial que o homem tem quando está coberto pela verdade. A verdade fez com que os monges não esperassem pelas esmolas, eles desenvolveram tecnologias para captar água, plantar, colher, etc, tudo para o seu sustendo e com a visão bíblica de que o trabalho dignifica o homem, enquanto que aquele que aquele que não quer trabalhar, aconselha Paulo, que também não coma (2 Ts. 3:10). Entretanto, Vishal nos mostra a mudança desta consciência se voltando para o misticismo, onde as políticas públicas vem sendo influenciadas pelas ideias de uma geração mimada e carente da verdade.

Vishal questiona a cultura da própria nação pela ideia da poligamia ser um dos motivos pelo qual a Índia não se desenvolve por inteiro, mas pela metade, ou seja, quando os homens tem o poderil – não a autoridade – sobre as mulheres, onde declara que “a poligamia desvalorizou nossas mulheres e enfraqueceu nossos filhos” (p. 45). Lutero viu a importância do macho e da fêmea. Examinando as escrituras percebeu que a completude do homem e da mulher está em firmar esta relação entre si, quando afirmou que “um ano de casamento foi mais santificador do que dez anos em um mosteiro” (p. 47).

A força da monogamia e a destruição que a poligamia provoca no país, são pontos elementares no entendimento do mal social da Índia, quando nos é apresentado no livro o argumento de que a poligamia deixa as mulheres fracas. Portanto, se as mulheres possuem algo de Deus que Ele mesmo injetou para transformação de um todo em conjunto com o homem, significa que com esta relação quebrada entre o homem e a mulher (poligamia), faz com que a Índia não se desenvolva perfeitamente, se suas mulheres não assumirem seu papel de importância, pré-estabelecido por Deus na sociedade, de antigamente e de hoje.

Temos um Deus de conceitos imutáveis, retos e perfeitos, por isso, seus resultados – baseados nesses conceitos – sempre serão de igual modo retos e perfeitos. É compreensível o porquê que as sociedades sem base nas escrituras acabam pendendo para a falta de compromisso com apenas um cônjuge, quando o autor esclarece que “a monogamia é difícil porque não pode ser sustentada sem uma espiritualidade que ordena amor acima da luxúria, submissão como o segredo da grandeza, mansidão como a fonte de glória, e serviço como o caminho para o poder” (p. 49).

Vemos o caso da menina Sheela e a luta pela qual Vishal e sua esposa passaram para garantir alguma dignidade aquela menina adoentada e ainda mais agravada pela indiferença de seus pais. “Para nós – afirma Vishal – ela era uma pessoa preciosa. Para eles, uma segunda filha era uma responsabilidade a mais(...)” (p. 55). Em contra partida, vemos o contraste do caso de Helen no ocidente, uma criança que nasceu cega, muda e surda. Seus pais acreditaram que apesar de todas estas limitações em sua condição física, seu espírito estava em condições ideais e perfeito. Eles sabiam que Helen foi alguém feito a imagem de Deus.

Encontramos uma questão bastante intimidadora e reflexiva no início da segunda parte, onde baseado em algumas profecias de Isaías, somos questionados se “Jesus morreu só para levar nossas almas ao céu, ou ele morreu também para a cura das nossas nações?” (p. 69). As argumentações de transformação social ficam muito mais intensas desta parte em seguida. Apesar da primeira consciência que o ocidente teve nas escrituras, fazendo-as seus fundamentos, o Evangelho hoje foi corrompido para um individualismo escancarado, fazendo de Cristo apenas um resgatador individual, ou o guia para nossas almas confusas em direção ao paraíso de descanso para nossas almas “cansadas”. Um questionamento pessoal: Cansadas de que? Quem dentre nós sofreu a perseguição que Paulo e tantos outros sofreram pelo evangelho? Somos um povo mimado, que está apenas engatinhando na compreensão da verdade que Deus outorgou ao mundo.

Os males da nossa atualidade estão refletidos nos acontecimentos da época de Cristo. Pessoalmente acredito que Ele permitiu aquele cego gritar, quem sabe em desespero, o mais alto que o mesmo podia, para assim fazer com que todos ao redor enxergassem aquele que eles mesmos rejeitavam. O cego até então era o resultado da culpa de seus pais, mas Jesus comprovou o inverso, curando-o e perdoando-o, mostrou a benignidade e longanimidade de Deus, para aqueles que justamente mais precisavam de tais atributos como exemplo na sociedade injusta e hipócrita em que viviam em Israel. “O mundo foi capaz de ver que um profeta poderoso tinha surgido entre eles, que poderia abrir os olhos de um cego de nascença, mas os governantes não conseguiam ver nada mais do que a violação das suas próprias regras mesquinhas” (p. 75).

Não existe mudança social sem consequências significativas sobre os que militam por esta mudança. Vishal nos apresenta o ato de tomar a cruz e seguir os passos de Jesus a partir de uma outra perspectiva. Enquanto que tomar a cruz pode parecer um ato de fraqueza e desamparo, somos convidados a perceber que tomar a cruz pode ser sim um ato de rebeldia contra este sistema corrupto. Levantar a cruz é a nossa arma moral para assumir com coragem e perseverança as consequências dessa decisão.

Notei na terceira parte o objetivo que Vishal tem de nos por contra a parede e questionar a nossa crença sobre o poder do Evangelho. Porque proclamar Cristo no ocidente é fácil? Ou será que vivemos numa falsa ideia de facilidade? Porque se está sendo fácil, – pergunto-me – por que não estamos vendo mudanças significativas em nossa sociedade? Estamos pregando o evangelho transformador ou uma ideia que inventamos, moldada aos padrões deste mundo? “Proclamar Jesus como o Rei do Céu geralmente não resulta em perseguição. Mas quando começamos a proclamar Jesus como governante dos reis da terra, nós chamamos o problema. Porque assim, automaticamente, julgamos o mundo que nos rodeia pelo critério da Sua justiça e Sua retidão, - por isso Jesus fala na oração modelo 'sua vontade seja feita assim na terra como no céu'.” (p. 153) Percebemos, neste capítulo, que o sistema político secular, para defender seus próprios métodos, o máximo ao qual pode fazer é eliminar a sua vida, e entregar você ao “poder” da morte. O engraçado é que fizeram isso com Jesus, mas o contrário aconteceu. Pois aquele que é o dono da vida não seria também o dono da morte? Jesus sujeitou a morte ao seu poder e senhoril com sua divina e providencial ressurreição. Ele derrotou nosso último inimigo. O que temeremos?

E neste mesmo sentido de vida abundante, Vishal nos apresenta uma ideia bastante confrontadora para os cristãos de mente fechada e mal conhecedores da real proposta de Deus, que só esperam ver a destruição de um mundo condenado. É bem verdade que a consciência do pecado atingiu até a natureza fazendo-a germinar espinhos e ervas bravas na terra (Gn 3: 17-18), mas ao mesmo tempo Deus nos convida a perseverança para os que acreditam na fidelidade de Deus em favor da sua criação. A possibilidade do refino e da restauração da terra ao seu estado original é muito bem defendida pelo autor, que baseia seus argumentos no que disse Paulo, em que nos revela sobre a “expectativa da criação que aguarda a manifestação dos filhos de Deus” e que “a própria será redimida do cativeiro da corrupção” (Rm. 8:19-21). Esperança realmente é um bom nome para este capítulo e última parte do livro, pois explica que “(...)o fogo de Deus vai consumir tudo o que é pecado em mim e no mundo não é uma mensagem de condenação, mas uma mensagem de esperança, que deveria me fazer trabalhar para construir coisas que vão durar pela eternidade” (p. 191).

São com teorias e práticas como estas que Vishal nos embriaga com novidades e esperanças para o nosso povo, raça e cultura. Esperança não em conceitos humanos, filosofia vã ou conselhos de astrólogos pelo alinhamento dos planetas ou qualquer outra baboseira sobre as influências das constelações para a terra. Não, nossa esperança está naquilo que está escrito na palavra do nosso Criador. Na atitude de salvação e reconciliação de Seu Filho, Cristo Jesus. E no resultado visível desse plano sobre aqueles que se sujeitam a Ele, o homem em sua completude, sujeitando-o a mente, o corpo e o espírito. A esperança escorre deste livro. O entendimento e a responsabilidade que envolve este saber encoraja-nos a buscarmos o nosso papel neste Reino, que vem, mas que já está!

VALORES BÁSICOS ENCONTRADOS NO LIVRO:

1. CONHECER A DEUS – Este valor está implícito em todo o livro, seja no conceito de entender a moral de Deus nos relacionamentos entre homem e mulher (a noiva de Cristo e o Cordeiro); nos ensinamentos de amor perfeito que Deus tem para qualquer ser humano; e inclusive no título, que por conter a palavra “verdade” nos lembra que Ele é o caminho a VERDADE e a vida.
2. TER UMA COSMOVISÃO BÍBLICA – O livro é praticamente um compêndio de valores voltados para a cosmovisão bíblica. Não apenas em teorias – pois a palavra de Deus nunca é apenas teoria – mas na prática, mostrando os caminhos para uma sociedade mais justa e em direção a perfeita completude em Deus.
3. SER ORIENTADO POR RELACIONAMENTOS – Tratar os relacionamentos injustos e quebrados é uma proposta básica deste livro, do começo ao fim, vemos a importância de tratar uns aos outros como gostaríamos de ser tratados. Enxergar a importância do outro, não apenas como meu semelhante e participante das mesmas dores que eu, mas enxergar neste alguém a semelhança de Deus, a imagem daquele que o criou. Relacionar-se é dizer a Deus que honramos sua criação, que respeitamos sua vontade ao criar-nos e que estamos felizes com tudo o que Ele fez.